Os livros de Anatomia, Histologia e de Fisiologia ressaltam que a inervação sensitiva da vagina é bastante escassa e restrita ao intróito vaginal, o que é, aliás, do conhecimento de todas as multíparas, que referem a passagem do feto pelo colo uterino, pelo intróito, mas não percebem a localização intravaginal do polo cefálico.
Tais livros não referem a sopa de letrinhas que existiria na vagina, segundo os artigos de sexólogos em revistas leigas. Apenas o ponto P, da figura, por corresponder ao colo uterino, tem expressiva inervação sensitiva. Já a inervação vasomotora da mucosa vaginal ou endocolpos, essa é muito abundante e percorre as pregas da mucosa. Notamos duas longas pregas longitudinais, paramedianas em ambas as faces, anterior e posterior da mucosa vaginal. Não são coincidentes, por isso se acomodam na vagina vazia, colabada, uma ao lado da outra. Destas pregas ou colunas longitudinais partem pregas transversais secundárias, em desenhos variados que se assemelham a uma conífera de onde o nome árvore da vida, que lhes deram os antigos anatomistas. Estudos recentes em mulheres paraplégicas tem demonstrado que fibras aferentes vagais podem levar ao cérebro estímulos oriundos da parede anterior da vagina adjacente ao intróito.
A origem das colunas ocorre numa elevação nodular, adjacente ao intróito vaginal que se denomina o tubérculo vaginal. Terminam, as colunas, num espaço triangular, adjacente ao trígono da bexiga. Este tubérculo vaginal da menina ou mulher adulta não deve ser confundido com o tubérculo genital do fim do período embrionário que se irá diferenciar na glande do pênis ou do clitóris. A região da vagina adjacente ao tubérculo vaginal torna-se entumescida e a musculatura lisa vaginal contrai-se ritmadamente durante a fase orgástica, massageando suavemente o pênis. . A localização desta elevação ou tubérculo poderá corresponder ao denominado ponto G, mas sua inervação é escassa e predominantemente vasomotora. O desenvolvimento da musculatura desta região, atribuindo-lhe uma capacidade contrátil expulsiva, através da tecnica do pompoarismo, pode ter muito valor anedótico, mas pode ser contraproducente para a boa realização sexual. Considerando os fatos expostos, perguntar-se-ia: Se assim é, por que nossa consulente, ou alguém de seu conhecimento, chegou ao orgasmo manipulando exatamente esta saliência, ou tuberosidade? Porque estimulou seu clitóris e porque já estava condicionada que o orgasmo era uma experiência extremamente prazeirosa.! Nenhuma mulher anorgásmica passa a tê-los por estimular exclusivamente o tal ponto G.
Durante a fase de excitação sexual a mulher experimenta uma série de fenômenos vasomotores, resultantes da estimulação de nervos pudendos ou de estímulos de origem cortical que podem ser desencadeados de várias maneiras. Parece que o homem é mais sensível à excitação por estímulos visuais enquanto a mulher reage mais intensamente a estímulos auditivos. Na via final de tais estímulos estão mediadores que promovem vasodilatação das vênulas e o aumento de sua permeabilidade. Poucos são os capilares na lâmina própria do endocolpos, mas muito abundantes as vênulas de tipo semelhante às encontradas no tecido muscular, na mucosa nasal e no mamilo e muito reativas à epinefrina, nor-epinefrina e histamina. A congestão leva ao edema, constrição da luz vaginal, protusão das pregas vaginais e transudação de plasma através do epitélio. Estudos com cinematografia intravaginal realizados pelo casal Master e Johnson demonstraram o porejamento do plasma em toda a superfície vaginal de uma mulher medianamente excitada. Quando uma mulher diz que lhe basta ouvir determinadas palavras, ditas com certa entonação para que fique toda molhada é porque houve condicionamentos anteriores nos quais estes estímulos foram seguidos de conseqüências agradáveis, ou reforçadoras, que tornaram esta resposta vasomotora mais provável. O orgasmo é um, senão o mais, importante reforçador em ambos os sexos. Experiências anteriores tornam a transudação vaginal, pelo condicionamento pavloviano, um estímulo sinal indicativo da iminência de um orgasmo. Condicionamentos operantes podem levar então a reações de esquiva ou fuga quando esta sinalize uma experiência desagradável. Caso uma experiência anterior tenha sido reforçadora, o condicionamento operante levará a comportamentos participativos da relação sexual que culminem na reação orgásmica. Reações historicamente desprazeirosas, notadamente na primeira relação sexual, dificultariam a experiência orgásmica. Açodamentos em experimentar uma primeira relação, por mera imitação ou curiosidade, podem tornar uma jovem numa futura mulher anorgásmica, que requererá cuidados especiais.
A busca manipulativa de determinados pontos anatômicos na parede da vagina, notadamente na manipulação digital por via anterior, que é a mais cômoda, ao invés do acesso posterior mais eficaz.
é um comportamento operante, que fatalmente tocará os pequenos lábios e clitóris, ricos em inervação sensitiva e reconhecidamente envolvidos na obtenção do plateau orgásmico. Repare a artificialidade do posicionamento digital na figura ao lado, para que o dedo introduzido se mantenha afastado do clitóris! Ao masturbar-se em decúbito dorsal, mesmo com o braço passando por baixo da coxa, a mulher fatalmente terá estimulação da glande clitoridiana. A umidificação vaginal, mais ou menos profusa em razão direta da sensibilidade à histamina, irá ser reconhecida, pela auto-experimentadora, como um sinal inequívoco da excitação sexual e como prenúncio de uma reação orgásmica. As mulheres que apresentam tríplice resposta cutânea a estímulos térmicos ou traumáticos tendem a uma humidificação mais profusa e são mais condicionáveis ao orgasmo. As atividades de sexo oral ou masturbatórias, preliminares à introdução peniana, são importantes facilitadores orgásmicos.
Devemos ainda lembrar que a embriologia e a anatomia nos mostram que os corpos cavernosos do corpo do pênis, no homem, são homólogos dos bulbos cavernosos da mulher, duas volumosas formações de tecido erétil profundamente situadas no âmago dos grandes lábios. A outra homologia é entre a glande peniana e a glande do clitóris. A glande do clitóris, como a do pênis é rica em terminações tactéis superficiais, de grande sensibilidade. Pressões, de outro corpo ou da mão, sobre qualquer uma destas formações, aumentam-lhes a retenção sangüínea, edema intersticial, ereção dos bulbos e constrição do intróito vaginal, tornando-se facilitadoras do orgasmo. A sabedoria indiana das posições mais prazeirosas, no Kamasutra, adequa o ato às peculiaridades anatômicas dos casais. As mulheres baixinhas e gordinhas estão entre as que, mais frequëntemente relatam dificuldades em atingir o orgasmo. A humidificação vaginal por transudação e a humidificação do intróito pelas secreções glandulares, ainda que possa ser profusa, até 5 ml, carece do movimento propulsivo que recebe o nome de ejaculação. Ejacular é projetar à distância. Portanto, não existe ejaculação feminina!
Curiosamente, as sexólogas, que ocupam as páginas de nossos jornais, divulgam a noção, totalmente equivocada, de que as mulheres experimentam ejaculação e omitem as homologias entre a ereção feminina, do tecido erétil dos bulbos cavernosos e do clitóris, com a ereção peniana do homem. Será outro tabu? Nova face da inveja do pênis?
As funções exercidas pela vagina já são bastante importantes o que torna desnecessário atribuir-lhe, fantasiosamente, outros papeis. É importante definir que o orgasmo feminino pertence à mulher. O máximo que o homem pode fazer para que uma mulher atinja o orgasmo com ele é ser muito carinhoso e, sobretudo, não atrapalhar. Há muitos modos pelos quais um profissional pode educar uma mulher para facilitar seus orgasmos mas não existe um profissional que possa ensinar um homem a provocar orgasmos nas mulheres. Lamento decepcionar os interessados do sexo masculino, mas não tenho essa fórmula mágica. O mais importante é que aquela mulher queira atingir o orgasmo com aquele homem. O orgasmo não nasce nem no clitóris, nem na vagina -- inicia-se na córtex cerebral!
A diferença entre o orgasmo masculino e o feminino
Anexamos, data vênia, colaboração enviada por uma leitora, em 09/03/2010, que nos empresta seu depoimento pessoal em apoio ao que acima foi apresentado e outra, de 17/08/2010, que veio com expressiva documentação fotográfica... Muitos agradecimentos também à anônima que enviou a expressiva filmagem de sua atividade masturbatória em 2010.Os preconceitos vão sendo, pouco a pouco vencidos...