A população brasileira vem envelhecendo de forma rápida desde o início da década de 60, quando a queda das taxas de fecundidade começou a alterar sua estrutura etária, estreitando progressivamente a base da pirâmide populacional. Passados 35 anos, a sociedade já se depara com um tipo de demanda por serviços médicos e sociais outrora restrita aos países industrializados. O Estado, ainda às voltas com os desafios do controle da mortalidade infantil e doenças transmissíveis, não foi capaz de aplicar estratégias para a efetiva prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas e suas complicações. Em um contexto de importantes desigualdades regionais e sociais, idosos não encontram amparo adequado no sistema público de saúde e previdência, acumulam seqüelas daquelas doenças, desenvolvem incapacidades e perdem autonomia e qualidade de vida.
Os diferenciais regionais de utilização dos métodos contraceptivos, além do mais, reforçam a noção de que o padrão de rápido declínio da fecundidade que hoje se observa no Brasil, longe de representar a conquista de direitos sociais (acesso ao sistema de saúde para o adequado planejamento familiar), se caracteriza, principalmente nas regiões mais pobres, pela desinformação das mulheres e dificuldade de obtenção de métodos contraceptivos reversíveis. Em 1986, por exemplo, dentre as mulheres de 15 a 54 anos usuárias de métodos contraceptivos, 81,9% das residentes no Rio Grande do Sul utilizavam métodos não definitivos (65,3% contraceptivos orais), enquanto nos Estados do Maranhão e Goiás, respectivamente, 75,9 e 71,9% das mulheres já haviam sido submetidas à salpingotripsia. No Nordeste, a proporção de esterilizadas dentre as mulheres casadas em idade reprodutiva elevou-se 50% em cinco anos (de 24,6% em 1986 para 37,6% em 1991). A irreversibilidade do processo de envelhecimento populacional no País reforça-se por esta tendência: em 1986, 16% do total de brasileiras entre 25 e 29 anos e mais de um quarto daquelas entre 30 e 34 anos de idade já haviam sido esterilizadas.
Tal a rapidez com que se processam as mudanças que, o Brasil deverá passar, entre 1960 e 2025, da 16ª para a 6ª posição mundial em termos de número absoluto de indivíduos com 60 anos ou mais. Por estar intrinsecamente relacionado à modificação da incidência e prevalência de doenças na população, a velocidade com a qual este processo vem ocorrendo deverá determinar grandes dificuldades ao Estado para lidar com o novo perfil epidemiológico que aos poucos se sobrepõe, sem substituir, completamente, o perfil anteriormente predominante.
Embora representasse menos de 8% da população, o grupo com 60 anos e mais absorveu 21% dos recursos do SUS destinados ao pagamento de internações hospitalares em março de 1997. No Rio de Janeiro, quase 5% dos indivíduos com 60 anos ou mais, que participaram do inquérito domiciliar mencionado anteriormente, relataram ter sido internado. Em Belo Horizonte, no primeiro trimestre de 1990, os maiores de 60 anos representaram quase um quarto do total de internações, apesar de constituírem cerca de 6% da população total.