A sífilis é uma DST (doença sexualmente transmissível) causada por um bactéria chamada Treponema pallidum.
Na era pré-antibióticos, a sífilis era uma doença crônica, prolongada, dolorosa e que acometia todos os sistemas do organismo. Era extremamente temida e muito estigmatizada
Antes de falar da doença propriamente, vou abrir um rápido parênteses para escrever sobre o estudo Tuskegee, uma das maiores atrocidades da história da medicina.
O Tuskegee foi um estudo científico conduzido no Alabama, sul dos EUA entre 1932 e 1972 com intuito de estudar melhor o tratamento e a história natural da sífilis. Até 1947 não existiam antibióticos e os tratamentos primitivos eram extremamente tóxicos e ineficazes. O propósito do trabalho era descobrir se as pessoas não tratadas vivam melhor do que aquelas que recebiam tratamento. Até aí tudo bem.
O primeiro problema residia no fato dos 399 participantes serem todos negros. Os pacientes também não eram informados sobre detalhes do estudo e muitos não sabiam sequer que tinham sífilis. O diagnóstico era de "sangue ruim". Aproveitavam-se do fato dos selecionados serem pobres e iletrados para oferecer um suposto tratamento médico gratuito e refeições nas clínicas para aqueles que se inscrevessem no trabalho.
Se não bastasse isso, o estudo continuou até 1972, 25 anos depois da descoberta da Penicilina, e os pacientes ainda assim continuaram não sendo tratados. Os médicos seguiram os doentes por 40 anos sem tratamento apenas para estudar a história natural da sífilis não tratada. Mais grave ainda, como não sabiam dos seu diagnóstico e não recebiam tratamento, os pacientes além de morrerem, contaminavam suas esposas e filhos.
O estudo só foi interrompido quando o escândalo virou primeira página dos jornais americanos. Desde então, os trabalhos científico passaram a sofrer um rígido controle ético para evitar atrocidades como esta.
Bom, voltando então para a doença.
A sífilis é causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum. A transmissão é basicamente sexual, mas pode também ser transmitida da mão para o feto. A doença é dividida em 3 fases, denominadas de sífilis primária, secundária e terciária. A camisinha é o melhor método para prevenir a transmissão da sífilis.
1.) Sintomas da sífilis primária
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Sífilis - Cancro duro |
A lesão primária apresenta-se como um úlcera, (parecida com uma afta de boca), não dolorosa nos órgãos genitais, que surge 2 semanas após o contacto sexual. Nas mulheres pode passar despercebida um vez que é indolor e costuma ficar escondida entre os pelos pubianos e a vulva.
Essa úlcera é chamada de cancro duro, e após 3 a 6 semanas desaparece mesmo sem tratamento, lavando a falsa impressão de cura espontânea.
Esse é o problema da Sífilis primária, é uma lesão indolor, que pode passar despercebida e que desaparece mesmo sem tratamento.
2.) Sintomas da sífilis secundária
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Sífilis secundária |
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Sífilis secundária |
Algumas semanas ou meses após o desaparecimento do cancro duro, a doença retorna, agora disseminada pelo organismo. Essa forma de sífilis se manifesta com erupções na pele, classicamente nas palmas das mãos e solas dos pés, febre, mal estar, perda do apetite e aumento dos linfonodos (gânglios) pelo corpo.
As lesões nas solas e palmas são características, mas as erupções podem ocorrem em qualquer local do corpo
Novamente a doença desaparece mesmo sem qualquer tratamento.
3.) Sintomas da sífilis terciáriaOs pacientes podem ficar de um até vários anos, inclusive décadas, assintomáticos, até o retorno da doença.
A sífilis terciária apresenta 3 tipos de manifestação:
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Goma sifílitica |
- Goma sifilítica = Lesões ulceradas que podem acometer pele, ossos e órgãos internos.
- Sífilis cardiovascular = Causa aneurismas da aorta torácica.
- Neurosífilis = Acomete o sistema neurológico, lavando a demência, meningite, AVC e problemas motores por lesão da medula e dos nervos.
O diagnóstico da sífilis é feito através de exame de sangue. O tratamento é simples, com antibióticos como a penicilina.
A bactéria também pode ser transmitido da mãe para o feto, levando a sífilis neonatal, uma doença grave com várias lesões estruturais do recém-nascido.
A sífilis na grávida pode causar aborto, parto prematuro, má formações e morte fetal.
Diagnóstico da sífilisO diagnóstico da sífilis é feito basicamente através de 2 exames sorológicos:
VDRL e
FTA-ABS.
O VDRL é o exame mais simples e é usado como
screening primário. O resultado é dado em formas de diluição. Ou seja, um resultado 1/8 significa que o anticorpo foi identificado até 8 diluições. Um resultado 1/64 mostra que podemos detectar anticorpos mesmo após diluirmos o sangue 64 vezes. Quanto maior for a diluição em que ainda se detecta o anticorpo, mais positivo é o resultado.
Como o VDRL pode estar positivo em várias outras doenças que não sífilis (lúpus, doença do fígado e até em idosos), consideramos apenas valores maiores de 1/32 como diagnóstico.
Todo VDRL positivo, mesmo em valores baixos, deve ser confirmado com o FTA-ABS.
Ao final, acabamos ficando com 3 situações:
- VDRL positivo e FTA-ABS positivo confirmam o diagnóstico de sífilis
- VDRL positivo e FTA-ABS negativo indicam outra doença que não sífilis
- VDRL negativo e FTA-ABS positivo indica sífilis tratada e curada. Se o paciente nunca tiver sido tratado, esse resultado sugere sífilis na fase latente.
Tratamento da sífilisO tratamento da sífilis é diferente dependendo do estágio estágio da doença:
- Sífilis primária ou secundária = Penicilina benzatina (Benzetacil) 2.4 milhões de unidades em dose única
- Sífilis com mais de 1 ano de evolução ou de tempo indeterminado = Penicilina benzatina (Benzetacil) 2.4 milhões de unidades em 3 doses, com uma semana de intervalo entre cada.
Doentes alérgico a penicilina podem ser tratados com tetraciclina, doxiciclina ou azitromicina.
Seguimento pós tratamentoTodo paciente tratado para sífilis deve refazer o VDRL com 6 e 12 meses. O critério de sucesso é uma queda de 4 titulações na sorologia. Por exemplo, VDRL cai de 1:16 para 1:4 ou de 1:8 para 1:2.
O FTA-ABS não serve para controle de tratamento, já que ele não fica negativo logo após o tratamento.