MANIPULAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS
1 - CATAPLASMAS
Preparações para uso externo, de consistência mole e compostas de pós ou farinhas diluídas em água, cozimentos, infusões, vinho ou leite. São preparados a quente ou, muito raramente, a frio.
É obtido por diversas formas:
- amassar as ervas frescas e bem limpas e aplicá-las diretamente sobre a parte afetada ou envolvidas em um pano fino ou gaze;
- reduzi-las em pó, misturá-las em água, chá ou outras preparações e aplicá-las envoltas em pano fino sobre as partes afetadas e
- pode-se ainda, utilizar farinha de mandioca ou fubá de milho e água, geralmente quente, com a planta fresca ou seca triturada.
2- CONTUSÃO
Consiste em colocar a substância dentro de um gral e fazer com que atue sobre ela a mão ou pilão perpendicularmente, com bastante força, para destruir a coesão das moléculas. A sustância deve obter a consistência de pó ou pasta.
3 - DECOCÇÃO
É a fervura da substância, para dissolvê-la pela ação prolongada da água e do calor. Utilizada sobretudo no caso das sementes de cereais, a decocção pode ser leve ou branda, carregada ou concentrada, conforme sua duração (de apenas alguns minutos a várias horas) e a saturação do líquido empregado.
4 - INALAÇÃO
Na inalação é utilizada a combinação de vapor de água com sustâncias voláteis das plantas aromáticas. Para direcionar o vapor é utilizado um cone de papelão colocado sobre com a base maior voltada para o recepiente e a base menor voltada para cima.
Normalmente esse processo é recomendado para para problemas respiratórios.
5 - INFUSÃO
Esse processo é indicado particularmente para as plantas aromáticas.
A substância é colocada numa vasilha, que depois recebe água fervente e posteriormente é tampada. Após descansar por um certo tempo, a mistura é coada. O tempo de infusão varia de 10 a 15 minutos (para folhas ou flores) a várias horas (no caso de raízes).
6 - FILTRAÇÃO
Seu objetivo é separar o líquido (solução, sumo, tisanas, tinturas, azeites, xarope) de certas partículas que se encontram em suspensão. Quando não se exige uma perfeita transparência do líquido, substitui-se a filtração pela coadura. Para a primeira utiliza-se papel de filtro e na segunda, emprega-se tecidos de lã, pedaços de algodão.
7 - MACERAÇÃO
Neste processo, a substância vegetal é deixada em contato com o veículo (líquido usado para dissolver o princípio ativo, como por exemplo: álcool, óleo, água ou outro líquido extrator), em temperatura ambiente. O período de maceração depende do material a ser utilizado. Folhas, flores e outra partes tenras são picadas e ficam macerando por 10 a 12 horas, enquanto partes mais duras ficam macerando por 18 a 24 horas. Embora lenta, a maceração é um método excelente para obter o princípio ativo em toda sua integridade.
8 - SUCOS
É um processo para ser utilizado imediatamente. Na preparação são utilizados frutos moles e maduros espremidos em pano ou ou folhas, flores e sementes triturados em liquidificador ou pilão. Nesses sucos podem ser adicionados água ou não.
9 - VINHOS MEDICINAIS
São preparações que resultam da ação dissolvente do vinho sobre as substâncias vegetais. O vinho utilizado deve ser puro, com alto teor alcoólico; tinto para dissolver princípios tônicos ou adstringentes e branco quando se deseja obter um produto diurético.
O método para se obter vinhos medicinais é muito simples: adiciona-se 5g de uma ou mais ervas secas, bem limpos e picados para cada 100ml de vinho e macera-se em recipiente bem tampado e em local escuro, por um período de 10 a 15 dias, sendo agitado uma ou duas vezes diariamente. Depois de filtrado, o produto deve ser conservado em local arejado.
10 - TINTURAS
A preparação de tinturas a partir de substâncias é um processo minucioso e delicado que consiste em misturar partes de plantas secas e dividas em álcool de pureza absoluta, onde o contato deverá ser mais ou menos prolongado para permitir uma melhor extração dos princípios ativos (8 a 15 dias).
Para obter as tinturas deve-se:
- plantas frescas - utilizar a proporção de 50% em peso de plantas em relação ao álcool a 92ºGL, em volume, isto é, 500g de planta fresca em 1000 ml de álcool;
- plantas secas - usar a proporção de 25% em peso de plantas secas em relação à mistura álcool-água, na proporção de sete partes de álcool a 92ºGL e três partes de água destilada ou fervida, em volume, ou seja, 250g de plantas secas em 700ml de álcool a 92ºGL e 300 ml de água.
Após a obtenção da tintura, filtra-se e o resíduo é espremido em uma prensa, para extrair o líquido que ainda esteja presente.
As tinturas alcoólicas conservam os princípios ativos por muitos anos e são utilizadas em pequena quantidade para uso interno (puras ou diluídas) e externamente em maiores quantidades (puras ou diluídas).
11 - TISANAS
Nome genérico dado às soluções, macerações, infusões e decocções preparadas com plantas medicinais. Quando a elas se agregam xaropes, tinturas, extratos ou outros ingredientes, as tisanas são chamadas de poções.
12 - TORREFAÇÃO
Este processo possui dois objetivos: retirar a água de certas substâncias e submetê-las a um princípio de decomposição que modifica algumas de suas propriedades.
O agente no processo da torrefação utilizado é o fogo. O café após a torrefação torna-se aromático, o ruibarbo perde suas qualidades laxantes e o ópio seu princípio viscoso.
13 - UNGÜENTO E POMADAS
Medicação imediata, podendo ser guardada por tempo determinado. É preparado através da mistura do suco, tintura ou chá da planta medicinal com vaselina ou lanolina.
As pomadas e os ungüentos permanecem mais tempo sobre a pele, devem ser usados a frio e renovados duas ou três vezes ao dia.
14 - XAROPE
Preparação de uso mais prolongado, usado principalmente para doenças da garganta, pulmão e brônquios. Para prepará-lo são necessários dissolver açúcar em água e aquecer até a obtenção de ponto de fio e depois acrescentar a tintura do vegetal na preparação.
OS EFEITOS DAS PLANTAS MEDICINAIS
Abortivo: provoca a eliminação do feto
Adsorvente:
elimina os gases acumulados
Anticatarral:
Inibe a formação de catarro.
Antiespasmódico:
evita ou alivia as cólicas e os espasmos (contrações musculares dolorosas).
Antiflatulento:
elimina os gases intestinais.
Anti-reumático: combate o reumatismo e seus sintomas.
Antitussígeno:
inibe a tosse.
Carminativo:
elimina gases acumulados e favorece a digestão, diminuindo o inchaço abdominal, a flatulência e as dores.
Catártico:
o mesmo que laxante ou purgativo.
Colagogo: favorece a eliminação do conteúdo das vias biliares.
Colerético:
contrai a vesícula biliar para a eliminação de seu conteúdo.
Diaforético:
provoca suor.
Diurético:
faz urinar mais, auxilia a eliminação de líquidos pelos rins.
Drástico:
purgante enérgico.
Emenagogo:
estimula a menstruação (não é o mesmo que abortivo).
Emético:
provoca vômito.
Emoliente:
suaviza, amolece uma inflamação.
Estomacal:
ajuda a digestão no estômago.
Estomáquico:
favorece as funções digestivas; tonificante do estômago.
Expectorante:
elimina a mucosidade do aparelho respiratório.
Febrífugo:
abaixa a febre.
Galactogogo: aumenta a secreção do leite.
Hemostático:
estanca as hemorragias.
Laxante:
purgante de efeito brando, que induz a evacuação de fezes moles, não causando dor nem irritação intestinal.
Mucolítico:
bloqueia a produção de muco; pode ser anticatarral.
Obstipante:
prende os intestinos.
Sudorífico: o mesmo que diaforético.
CUIDADOS NO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS
Muitas vezes escutamos as pessoas recomendarem o uso de plantas medicinais dizendo: "Se bem não fizer, mal também não fará." Infelizmete não é isso que ocorre, porque o uso inadequado de plantas medicinais pode muitas vezes não realizar o efeito desejado.
O uso de plantas medicinais, quando efetuado com critérios, só tem a contribuir para a saúde de quem o pratica.
Esses critérios se referem à identificação da doença ou do sintoma apresentado, conhecimento e seleção correta da planta a ser utilizada e uma adequada preparação.
As planta medicinais devem ser adquiridas, preferencialmente, por pessoas ou firmas idôneas que possam dar garantia da qualidade e da identificação correta. O ideal seria que as pessoas e instituições que fazem uso das plantas medicinais, mantivessem o cultivo das espécies mais utilizadas.
Na preparação, deve-se observar cuidadosamente a dosagem das partes vegetais e sua forma de uso.
As misturas de plantas no chá devem se restringir a um número pequeno de espécie com indicações e uso semelhantes.
A forma de uso e a freqüência também são importantes durante o tratamento. Não adianta ingerir um litro de chá de uma só vez, quando se deveria tomar a intervalos regulares de tempo durante o dia. Da mesma forma, uma planta recomendada exclusivamente para uso externo não deve ser administrada internamente.
O uso contínuo de uma mesma planta deve ser evitado. Recomenda-se períodos de uso máximo entre 21 e 30 dias, intercalados por um período de descanso entre 4 e 7 dias, permitindo que o organismo desacostume-se e, também, para que o vegetal possa atuar com toda a sua eficácia.
A adição de mel a chás e xaropes só deve ser feita depois que estes fiquem mornos ou frios.
A dosagem dos remédios caseiros feitos com plantas medicinais variam de acordo com a idade e com o tipo de metabolismo de cada pessoa.
O horário em que devem ser tomados os preparados fitoterápicos é muito importante para a obtenção dos efeitos desejados. Assim, têm-se as seguintes regras gerais:
^ desjejum - preparações os laxativos, depurativos, diuréticos e vermífugos;
^ duas horas antes de depois das refeições principais - preparações anti-reumáticas, hepatoprotetoras, neurotônicas e antitérmicas;
- meia hora antes das refeições principais - preparações tônicas e antiácidas;
- depois das refeições principais - preparações digestivas e contra gases;
- antes de se deitar - preparações hepatoprotetoras e laxativos.
As dosagens dos fitoterápicos caseiros variam de acordo com a idade e metabolismo de cada indivíduo.
Para os chás (decocção, infusão e maceração) recomenda-se:
j de 6 meses de idade até 1 ano è 1 colher (café) do preparado 3 vezes ao dia (somente com acompanhamento médico);
j de 1 a 2 anos è ½ xícara (chá) 2 vezes ao dia;
j de 2 a 5 anos è ½ xícara (chá) 3 vezes ao dia;
j de 5 a 10 anos è ½ xícara (chá) 4 vezes ao dia;
j adultos è 1 xícara (chá) 3 a 4 vezes ao dia.
As informações sobre a dosagem de plantas medicinais são muito divergentes, principalmente quando se trata da medição de volumes com utensílios domésticos ou mesmo conversão de pesos em volumes e vice-versa. Recomenda-se que ao preparar decocções, infusões e macerações deve-se utilizar para material seco uma colher (chá) e para o vegetal fresco uma colher (sopa), ambos misturados em um litro de água.
Todo cuidado é pouco. Mas isso não impede de utilizarmos as plantas medicinais, desde que, estas sejam empregadas da maneira correta.
PRINCÍPIOS ATIVOS DAS PLANTAS MEDICINAIS
Os constituintes químicos, encontrados nos vegetais, são sintetizados e degradados por inúmeras reações que constituem o metabolismo das plantas. A síntese de compostos essenciais para a sobrevivência das espécies vegetais, tais como: açúcares, aminoácidos, ácidos graxos, nucleotídeos e seus polímeros derivados, faz parte do metabolismo primário das plantas. Enquanto que os compostos sintetizados por outras vias e que aparentam não ter grande utilidade na sobrevivência das espécies, fazem parte do metabolismo secundário, logo são denominados de compostos secundários.
Os metabólitos secundários são caracterizados por não serem vitais para as plantas, na maioria das vezes, como os alcalóides; por apresentar diferenças qualitativas e quantitativas entre as diferentes espécies, e ainda, por serem produzidos em pequenas quantidades.
A separação dessas duas vias metabólicas é muito discutida e, a classificação dos compostos em primários e secundários depende muito da importância de determinado composto para uma determinada espécie, assim como do estágio de desenvolvimento em que se encontra.
Segundo Mann (1987), há três pontos de origem e produção de compostos secundário (figura 1), diferenciados mediante seus precursores.
- ácido shiquímico, como precursor de inúmeros compostos aromáticos;
- aminoácidos, fonte de alcalóides e peptídeos;
- acetato, que através de duas rotas biossintéticas origina compostos como poliacetilenos, terpenos, esteróides e outros.
A concentração de princípios ativos na planta depende, naturalmente, do controle genético e dos estímulos proporcionados pelo meio, como por exemplo fatores climático, edáficos (relacionados com o solo), exposições a microrganismos, insetos, outros herbívo-ros e poluentes.
Os estímulos proporcionados pelo meio são normalmente caracterizados como situações de "stress", isto é, excesso ou deficiência de algum fator de produção para a planta.
Dentre os fatores climáticos, o fotoperíodo ( número de horas de luz por dia necessário por uma planta para que possam florescer), a temperatura, o "stress" hídrico (deficiência de água no solo) podem determinar em determinadas espécies a época ideal de colheita onde poderá se obter uma maior quantidade do princípo ativo desejado.
Existem vários grupos de princípios ativos como por exemplo os alcalóides, os óleos essenciais, os taninos, as saponinas, os glicosídeos cardiotônicos, os flavonóides, etc.